martes, 7 de julio de 2009

Cruzar a fronteira (da Antropologia Visual)

Trabalho realizado pela disciplina "Filme Etnográfico".
Professora: a realizadora Catarina Alves Costa


“If the images of films often defy the ‘culture concept’, the transculturality of cinema should not finally be taken as a new key to human universals, but rather as a provocation”.
David MacDougall

Cruzar a fronteira. Essa é a finalidade última da imagem etnográfica. Chame-se ‘transculturalidade’, ou antropología visual do particular, da que fala David MacDougall no seu artigo ‘Transucltural cinema’, escrito no ano 1992, o filho condutor desde comentario de texto.

Segundo o autor, o particular, o pormenor, é o que a fotografía tem querido capturar desde sua aparição, ao igual que o cinema. Capturar “the inexhaustible detail of the visible”, em palavras do autor, registar “the unique detail”, aquilo que se esconde atrás do general é que, por tanto, destaca a diferença.

O que o filme etnográfico pretende é, como temos dito, cruzar essa fronteira, esse límite, fazer de medianeiro com o que é estranho para fazer-o comprensivel, e desafiar essas fronteiras provocadas por o que nos parece pouco familiar. É por isso que o filme etnográfico é considerado transcultural, porque faz-nos recordar que a diferença cultural é um conceito volúvel basado em preconceitos, porque o diferente pode ser mais semelhante do que pensamos, o melhor dito, do que creemos.

Para defender esta ideia, MacDougall fala-nos primeiro da diferença entre o texto antropológico e a imagem etnográfica, ou seja, entre as imagems e as palabras. Ele diz que se diz que os textos fazem a pessoa que não vemos mais estranha do que é porque o leitor está à imaginar na sua cabeça à essa pessoa, e também que,

“in presenting the particular, etnographic writing elides or limits many sensory details that might shock or repel us if we were to confront them directly” (p. 246).

Ou seja, que há coisas que se escapam as palavras, como são as sensações, a diferença das imagems, que mostram sempre aspeitos gerais onde o concreto é contido. O que Sapir chama, segundo MacDougall, “the more intímate structure of culture” (p. 262).

Além disto, ele afirma que imagems e palavras estão a descrever as duas a mesma coisa, ou seja, a natureza humana da mesma maneira. De este modo, a imagem, já seja mostrada na televisão ou nas revistas e na literatura da viagems, exalta as divergências com ‘os outros’ porque nós vemos o corpo, a vestimenta, os adornos e a forma de vida, que contrasta com a nossa porque se exalta o exótico. É o que tem acontecido sempre en quanto que a antropología tem querido geralizar comportamentos e formas de pensar:

“In anthropology, writers therefore tend to favor the categorization rather than the detailed description of their observations” (p. 247).

É a representação da diferença, por tanto, ou que a nova imagem está a desafiar, en quanto que esta imagem é o que nos vemos lá fora mas, que é o que está no fondo, atrás de esta visão naif da existencia, muitas vezes invisível? Que é o que nós temos que deixar desaprender para voltar a perceber duma nova maneira, e adquirir assim o que Ashis Nandy chama ‘an alternative social knowledge’ (p. 255) ?

Mas a imagem sozinha não nos fala das outras culturas, segundo MacDougall, sino também, e muito mais, as vozes, as conversações ouvidas nessos filmes, ou seja, o linguagem. A imagem pode comunicar-nos muitas coisas sobre os outros, mas esso que mostra-nos tem mais a ver com objeitos visíveis, já sejam adornos, formas arquitetónicas, tecnologias, artefactos ou costumes folklóricas, não com o que as pessoas têm dentro, nas suas mentes, é que forma parte do carácter pessoal, mais que do cultural.

“Photographs and silent films were dumb when it came to language, and almost equally useless for studying other symbolic systems such as kinship and ritual. They were even less helpful in documenting values and beliefs”. (p. 255).

Por tanto, o avance no filme etnográfico chega quando o som aparece, quando podemos ouvir as pessoas a falar, porque “a fala tem qualidades físicas”. É por essa ração que a antropología mais actual põe emfasis na identidade pessoal, na gestualização corporal e no importante papel que jogam os sentidos e as emoções nossa conducta, por encima de nosso condicionamento cultural.
Os filmes podem enregistrar isso, en quanto que os textos antropológicos centram-se mais em formas de organização sociais, embora ambos linguagems tratem de ‘elementos transculturais’.
En palavras de MacDougall, “Images and writen texts not only tell us things differently, they tell us different things” (p. 257). E para que? Para conscienciar, mas no sentido de dar a conhecer para perceber, duma forma não só intelectual mas também sensorial, aquello que parecía estranho mas que agora não o é tanto.

Esto quer dizer que os filmes etnográficos falam da primeira pessoa, do actor social, do individuo no seu contexto. Por tanto, filmes deixam, como temos dito, a cultura num segundo plano, e pôem a pessoa, a sua autonomía e as suas relações, no primeiro, captando a complexidade inherente na natureza humana é invitamdo-nos a alcançar o ‘outro’ conhecimento, que tem mais a ver com a ambigüedade do comportamento humano que só se ve em determinados momentos. Essos momentos são os que a cámara pode captar de forma mais fiel, embora sejam também uma construção, um discurso, como os textos.

Por tanto, os filmes etnográficos podem recrear contextos sociais particulais e construir um discurso dramático com eles, uma narrativa etnográfica comprometida com creenças políticas e morais, en quanto que estos fazem ao espectador partícipe do que éste está a ver.

A antropología visual pode ser, além desto, muito mais fidedigna que a textual porque abarca muitas disciplinas, e pode fazer esso porque antes ‘rompiu’ com a ideia dum único discurso (antropológico), a saber, o discurso evolutivo. Assim, antropología da imagem incluye o mundo físico, o mundo social e o mundo estético, porque estão ligados entre si: “The transculturality of filme not only has intercultural but interdisciplinary implications” (p. 262).

O que MacDougall está a dizer é que a imagem encontra o que temos de parecido com outras culturas, o que é um desafio as clasificações que vem fazendo a Antropología desde a sua aparição, o conceito de cultura que tem sido defendido por muito tempo. Esta nova etnografía põe atenção na cooperação com os outros em contraposição ao observador omnisciente. Esse ‘encontro’ é a transculturalidade.

A transculturalidade é um ‘artefacto’ da comunicação, das relações entre as pessoas, pertanham ao mundo que pertanham, e dos movimentos que estas relações trouxem consigo. Os antropólogos têm que mudar , ou mais que mudar, ampliar as suas investigações, que analizam os aspeitos culturais, no análisis da ‘experiência corporal’, como diz o autor a propósito de outro autor, Csordas (p. 265), e que tem a ver com as posturas, com as formas de expressão física, e que tem a ver, mais não sempre, com a forma de pensar.

O outro problema do antropólogo para conhecer ao ‘outro’ é que estuda a outra cultura desde a sua visão, en vez de poer-se em a pele (perceba-se, na mente) dos ‘outros’, como diz Asad (p. 265), embora a traslação cheve implícita a creação de diferença. A propósito desto, o autor opina que há muitos aspeitos da experiencia social que não podem ser traduzidos, e que o antropólogo e o filme, en tanto que é realizado por alguém, são sempre intermediarios entre o campo estudado e a audença.

A imagen tem a ventagem sobre o texto en quanto que esta é muito mais flexivel, muito mais creativa e aberta, e além disso ela tem o poder de evocação que as palavras não tem (ou que não tem tanto como a imagem). O que esto quer dizer é que as imagems evocam diferentes significados e funções segundo o objeito que dão a ver.

Mesmo assim, a imagem tem sempre consigo connotações para o espectador, é por esso é ambigua: porque pode ser interpretada de maneras diversas, segundo quem esté delante do filme e do objeito que está a mostrar. É, en palavras do autor, o que Ivo Strecker denomina ‘the turbulence of images’ no relato etnográfico, a metáfora da visão ‘understanding-as-seeing’, ou que quer dizer que perceber é ver, experimentar, desvendar o que está oculto:

“The point here is that metaphor is not only a feature of cognition and language but extends into visible social practice. This can be seen in the use of metaphorical gestures (McNeill and Levy 1982), in the ‘interaction rituals’ of everyday life (Goffman 1967), and in the enactment of ‘social dramas’ (Turner 1981). Film conveys this complex in its interrelations, tying together the world of image, word, and action –resembling what Stephen Tyler calls an ‘interactionist view of thought’ that combines its verbal (acoustic), visual, and kinaesthetic dimensions” (p. 269).

Descobrir o que está oculto e cruzar a fronteira mediante a representação do que não se diz, embora estei sempre ‘alí’, entre as pessoas. Não é essa a missão no só da imagem etnográfica, mas também da Antropología?
17/04/2009

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